sexta-feira, 15 de abril de 2016

A Paisagem: objectividade e subjectividade

Bernardo Bellotto, il Canaletto, View of Pirna from the Sonnenstein Castle (1750, Hermitage Museum)
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Embora o desenvolvimento da pintura de paisagem do século XIX seja a demonstração de uma nova maneira de entender a natureza, concedendo-lhe uma outra dignidade, não se deve esquecer que a pintura implica sempre a presença de um artista que faz a escolha do tema. Ou seja, por muito que o pintor pretenda fazer uma representação fiel daquilo que vê, ao passar da natureza vivida para a natureza representada, existe um processo que envolve os sentimentos e escolhas do artista.

Joseph Mallord William Turner, A Pink Sky above a Grey Sea (c. 1822)

Vários historiadores de arte têm notado esta distância entre a natureza e a sua representação na pintura de paisagem. James Elkins, num «Report on the book Landscape Theory», coloca a questão:
«Do landscapes represent nature? To this one might answer: No, because nature is such a compromised term that the statement, landscapes represent nature, could at best be an empty formula. (…) Perhaps the optimal response would be a guarded “yes and no”». (Elkins 2008)
 

Há muito de subjectivo na pintura, mesmo na de paisagem, pois, tal como observou Kenneth Clark: «C'est l'amour que l'artiste porte à la nature qui fait de celle-ci une oeuvre d'art en unifiant les éléments épars du monde sensible et en les élevant à un niveau de réalité supérieure (…)» (1994, 25). 

Harald Moltke, Northern Lights, Iceland (1899)

Também Simon Schama escreveu: «(...) landscape is the work of the mind. Its scenery is built up as much from strata of memory as from layers of rock.» (1996, 7). 

Mstislav Dobuzhinsky, Rue Neuve In Bruges

Por ultimo, citamos Mariana Pinto dos Santos no colóquio sobre Arte & Paisagem (2006, 267-268):
«(...) A paisagem pintada ou fotografada é uma construção, e o próprio acto de olhar a paisagem é também em si mesmo uma ficção – vemos o que queremos ver, vemos o que queremos reconhecer, isolamos nós próprios parcelas do espaço que temos diante de nós e a paisagem é sempre fruto de uma relação subjectiva que estabelecemos com o mundo externo. (...) E portanto a ideia de que a paisagem, mesmo selvagem, pode ser pura, de que se pode fruir da visão de um espaço natural intocado pelo homem, e de que essa fruição será igual para todos os que o olharem, é apenas uma miragem. (...)».
Resumindo, a pintura de paisagem (e a fotografia) é necessariamente subjectiva, mesmo quando há vontade de objectividade por parte do artista.
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Bibliografia:
Clark, Kenneth, 1994. L'Art du Pausage. Paris: Gérard Monfort, Éditeur.
Elkins, James. [2008]. Report on the book Landscape Theory. https://www.academia.edu/163424/On_the_Book_Landscape_Theory_English_ (consultado em Outubro 10, 2014).
Santos, Mariana Pinto dos. 2006. Paisagens Urbanas em Jorge Colombo. In Arte & Paisagem. Lisboa: Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. 265-273. 
Schama, Simon. 1996. Landscape and Memory. London: Fontana Press.

2 comentários:

ana disse...

Sem dúvida, concordo com a sua conclusão.
Beijinho.:))

Margarida Elias disse...

Beijinhos, Ana!