sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Do prosaico até ao infinito...

Luis Camnitzer, Infinite Rays of the Sun (1978)
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O prato da menina

A menina tinha um prato
e dentro do prato um pato
de penas cinzentas lisas
e no fundo desse prato
havia um prato pintado
e dentro do prato um pato
com uma menina ao lado.
E essa menina de tinta
tinha um prato mais pequeno
e dentro do prato um pato
de penas cinzentas lisas
e no fundo desse prato
estava outra menina ao lado
de um outro pato de penas
cada vez mais pequeninas.
Se a menina não comia
não via o fundo do prato
que tinha lá dentro um pato
de penas cinzentas lisas,
nem via a outra menina
que era bem mais pequenina
e tinha na frente um prato
que tinha lá dentro um pato
um pato muito bonito
de penas cinzentas lisas
tão pequenas tão pequenas
que até parecia impossível
como a menina ainda via
e imaginava o desenho
até ao próprio infinito!
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2 comentários:

Presépio no Canal disse...

Que giro! :-) Sempre gostei de MAM.
Bjinhos!

Margarida Elias disse...

Só a descobri há pouco tempo e gostei muito deste poema. Beijinhos!