quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Da solidão do retrato - de um diálogo com a Ana

Alfred Stevens, Senhora a ler
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Já há algum tempo, tive este diálogo com a Ana do blogue (In)Cultura que escreveu:
«Agora aprecio melhor o retrato. Há uns anos atrás não ligava muito. Preferia telas de diferentes temas mas não a solidão do retrato.»
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George Spencer Watson, Hilda and Maggie (1911)
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A ideia ficou-me, porque, apesar de não considerar os retratos solitários (e há retratos de grupo), julgo que ela tem alguma razão. 
Contudo, como na altura disse à Ana:
«Nunca pensei no retrato em termos de solidão - a ideia é curiosa para mim, pois sempre vi os retratos como presenças-ausentes. (...)»
De facto, penso que há um diálogo (silencioso) entre o espectador e o retratado, por intermédio do pintor (ou fotógrafo), nomeadamente quando os retratados enfrentam o olhar de quem os observa.
Para concluir, deixo a questão em aberto e gostava de ter outras opiniões.

Francis Luis Mora, Evening News

5 comentários:

APS disse...

Aqui vai a minha opinião.
O crítico inglês Andrew Forge (1923-2002) dizia: "...porque uma paisagem por Van Gogh ou uma naturez morta são também um auto-retrato". A Arte reflecte, quase sempre, um estado de espírito do autor, mesmo que pinte ou fale de outras coisas. Num retrato hão-de cruzar-se, invariavelmente, a relação pintor/retratado e os estados de espírito momentâneos dos dois, ainda que prolongados, pelas sessões. Régios ou presidenciais (ver Pomar/Soares e Paula Rego/Sampaio) os quadros ressumam a relação humana, entre eles. Obrigatoriamente, há sempre um "diálogo", no mínimo, nunca uma inteira solidão.

Margarida Elias disse...

Concordo inteiramente consigo APS. Bom dia!

ana disse...

Obrigada por este diálogo.
É interessante a sua observação. Tem razão há o diálogo entre o que pinta e o/a pintado/a. Esse passa quase sempre pelo olhar ou não do retratado... a espera, a timidez, o à vontade, etc.
Beijinho, Margarida.

LuisY disse...

confesso, que sempre gostei de retratos, ainda muito antes de a arte se ter tornado um gosto ou um tema de estudo. Julgo que despertam sempre uma curiosidade em nós. Quem era este homem? Que significa este olhar e estas mãos que se cruzam?

Outras vezes apaixonamos-nos quase pelos retratados. Há uma beleza e uma sensualidade naqueles homens e mulheres que morreram há 300 ou 400 anos que sobrevive nos dias de hoje.

E depois há as roupas, as sedas, os veludos, as rendas que envergam os retratados que também nos fascinam sempre. Passei por uma fase na vida em que interessava muito por moda e todos aqueles trajes me despertavam um curiosidade quase profissional, como se olhasse para um figurino de modas com quatro séculos de idade.

Enfim, a minha adesão ao retrato é instintiva. Ao contrário, só aprendi a gostar de naturezas mortas em adulto.

Bjos

Margarida Elias disse...

Concordo consigo, Luís. Contudo, sempre gostei também de naturezas mortas - e fascinam-me os detalhes e as texturas, por exemplo dos tecidos, que se encontram tanto nos retratos como nas naturezas mortas.
Bjs!