quinta-feira, 5 de setembro de 2013

As Rosas de Atacama

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Devido, em grande parte, à actual crise, quase deixei de comprar livros - passei a lê-los em bibliotecas, a pedir emprestados a familiares e amigos, etc. Entretanto, este verão, decidi reler os livros de que gostava e que já tinha em casa, meio esquecidos. Qual não foi o meu espanto quando vi que, entre esses livros, estava um que eu ainda não tinha lido. Para ser sincera, estava mesmo convencida que já o tinha lido, até o começar a ler. Trata-se das Rosas de Atacama de Luís Sepúlveda. O livro desenlaça-se a partir de uma visita ao campo de concentração de Bergen Belsen, onde o autor leu a frase: «Eu estive aqui e ninguém contará a minha história». Sepúlveda decide então reunir um conjunto de histórias de pessoas que conheceu, para "evitar que o pó do esquecimento as cobrisse".
No meio desta descoberta, para mim já extraordinária, encontrava-se outra descoberta. O conto intitulado As Rosas de Atacama, sobre um personagem, Fredy Taberna, que anotava todas as maravilhas que ia encontrando à sua volta. No meio da sua história, toda ela digna de nota, fiquei sobretudo fascinada ao encontrar a explicação sobre o que são as rosas de Atacama:

«(...) ao amanhecer de 31 de Março, o meu amigo sacudiu-me para me acordar.
Os sacos-cama estavam empapados. Perguntei se tinha chovido e Fredy respondeu que sim, que tinha chovido miúda e subtilmente, como em quase todos os dias 31 de Março em Atacama. Quando me pus de pé, vi que o deserto estava vermelho, coberto de pequenas flores cor de sangue.
- Ali as tens. As rosas do deserto, as rosas de Atacama. As plantas continuam ali, debaixo da terra salgada. Viram-nas os atacanenses, os incas, os conquistadores espanhóis, os soldados da guerra do Pacífico, os operários do salitre. Continuam lá e florescem uma vez por ano. Ao meio-dia já estarão calcinadas pelo sol - disse Fredy anotando dados no seu caderno».

2 comentários:

Presépio no Canal disse...

Fabuloso, Margarida! Sugestão anotadíssima! Beijinhos!

Margarida Elias disse...

Eu gosto muito de literatura sul americana. Bjns!