sábado, 6 de abril de 2013

Partindo de Hildegard de Bingen para outras divagações sobre o tempo e a mudança

«(...) the visions I saw I did not perceive in dreams, or sleep, or delirium [in phrenesi], or by the eyes of the body, or by the ears of the outer self, or in hidden places; but I received them awake and seeing with a pure mind and the eyes and ears of the inner self, in open places, as God willed it. How this might be is hard for mortal flesh to understand» (Hildegard of Bingen, Link)
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Hildegard of Bingen, The Trinity (Link).
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Hildegard of Bingen, Angelic Choir from Liber Scivias (c. 1180, St. Hildegard’s Abbey, Eibingen, Link)
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Hildegard of Bingen, Cultivating the Cosmic Tree (Link)
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No post de ontem escrevi sobre o tempo, no post de hoje desejo complementar esse discurso com um outro assunto que me interessa: a entropia e o equilíbrio. De uma forma simplificada, a entropia está ligada à quantidade de informação - quanto maior a informação maior a entropia. Na nossa sociedade há uma grande quantidade de entropia, o que implica que temos de alterar a nossa maneira de estar na vida para nos adaptarmos a uma nova forma de viver a temporalidade, para conseguirmos gerir a grande quantidade de informação que nos rodeia.
Para escrever sobre este assunto vou basear-me num texto que já li há muito tempo e que agora vou resumir, escrito por Fernando Carvalho Rodrigues e intitulado: “As Novas Tecnologias, O Futuro dos Impérios e os Quatro Cavaleiros do Apocalipse”. Carvalho Rodrigues faz um paralelo entre a evolução das sociedades e os Quatro Cavaleiros do Apocalipse (de São João). De acordo com o seu texto, - que vou citar e resumir de uma forma muito livre -, na definição de Shannon, um sistema que tem em si uma grande quantidade de informação - no sentido de que, para o conhecer, são necessárias longas explicações - induz em quem o observa uma grande ignorância; a estrutura que lhe dá a forma é altamente desordenada. Se, pelo contrário, a estrutura é mais ordenada, temos dela menos ignorância, necessitamos de menos informação para a perceber. A estrutura bem organizada, ordenada, tem uma baixa quantidade de informação.
Por seu lado, Boltzmann demonstrou que o equilíbrio é o estado em que não há dinâmica (os estados do sistema são sempre os mesmos), não pode haver evolução, é um estado excepcional no Universo. Para a vida funcionar, ela necessita de criar, de promover e de se expandir em estruturas que estão fora do equilíbrio termodinâmico. Deste modo, se chegarmos ao equilíbrio total, deixamos de ter informação ou energia - deixa de haver vida. Por isso, é necessário que haja uma via que permita que a informação vá aumentando e simultaneamente a sociedade seja capaz de a absorver, incorporar no seu sistema, permitindo a continuação da vida.
Essa via será a do primeiro cavaleiro do Apocalipse, que veste de branco, monta um cavalo branco e, armado de arco a flechas, percorrerá o mundo difundindo boas-novas. É o cavaleiro que leva a Esperança, o que espalhará o que há de bom. Ele é a vida da ascensão em espiral, gerada por uma taxa de inovação criativa constante. Trará um crescimento no conhecimento e a criação de melhores estruturas mais longe do equiliíbrio, mais funcionais, sabendo que não é no domínio da Natureza pelo Homem, mas da vida das estruturas em uníssono com o Universo que brotará um novo (e melhor) império. 
Como escreveu Carvalho Rodrigues, é uma coisa contraditória a que queremos almejar: estar em equilíbrio com a Natureza e, ao mesmo tempo, permanecer fora do equilíbrio termodinâmico, para continuar a viver. A chave está na inovação criativa: no combate contra a ignorância e na busca da felicidade. Hoje em dia, a informação é demasiado grande para um único ser e por isso tem de ser partilhada, gerida de uma forma diferente - pela união entre os povos - para poder ser entendida, para se poder continuar a criar e a gerar vida. É esse o paradoxo: inovar e procurar o equilíbrio, mas evitar alcançar o equilíbrio total, onde a vida deixa de existir.
Como terá dito Darwin: «Não é o mais forte que sobrevive. Nem o mais inteligente. Mas o que melhor se adapta às mudanças».
Por fim, creio sinceramente que entre o excesso caótico de informação e o equilíbrio perfeito mas estéril, há pontos intermédios onde podemos encontrar o contentamento - alguns deles estão, muito provavelmente, na arte.

2 comentários:

ana disse...

Margarida,
Primeiro, obrigada pelo apontamento musical, já não ouvia há muito tempo.

Segundo, concordo inteiramente com Darwin, embora as suas teorias científicas sejam agora rebatidas, os axiomas dele são irrefutáveis: «Não é o mais forte que sobrevive. Nem o mais inteligente. Mas o que melhor se adapta às mudanças».

Há um excesso de informação que torna mais difícil a organização do mesmo. A memória está fragilizada com as novas formas de adquirir conhecimento.
É um post muito interessante e que dava pano para mangas.
Gostei muito destas reflexões.
Beijinhos.:)

Margarida Elias disse...

Obrigada Ana! Um dia, quando puder, partilhe um pouco da sua tese de doutoramento... Bjns!