quinta-feira, 2 de abril de 2009

A pintura de História

Pintura de Corot, O Baptismo de Cristo (1845-47, Igreja de Saint-Nicolas-du-Chardonnet).
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Desde a fundação das Academias, nomeadamente em França, no Século XVII, que foi definida uma hierarquia de géneros. Nessa hierarquia estava no topo a pintura de História, considerada a mais nobre, quer pelo grau de dificuldade da composição, exigindo mestria na representação de pessoas, objectos e paisagens, quer pela importância dos temas. A seguir estava o retrato e a pintura de género, depois a paisagem e, por fim, a natureza morta. O Século XIX veio subverter esta situação, pondo fim às regras académicas. Nessa subversão cabe a valorização da pintura de paisagem e de ar-livre, a qual esteve ligada aos movimentos que, em meados do século, iriam transformar os conceitos estéticos de beleza e de ordem clássicas. Entre esses movimentos contam-se a Escola de Barbizon, o Realismo e o Impressionismo.
Até à consagração da pintura de paisagem, muitos pintores compunham quadros onde a paisagem ocupava a maior parte do espaço, sendo as figuras bastante reduzidas. Por fim, davam a essas obras títulos evocadores de uma temática mais «nobre». Um dos pintores que mais utilizou este esquema foi precisamente Corot.
No entanto, nesta obra em particular, o artista respeita a valorização do tema histórico, de carácter religioso, dando importância compositiva ao assunto escolhido e mantendo um esquema tradicional da representação do Baptismo de Cristo. Esta opção está provavelmente ligada ao facto de se tratar de uma encomenda para uma igreja. No entanto, não deixa de ser notória a dimensão dada às árvores que se prolongam verticalmente ao longo do quadro, chegando ao Céu. As árvores funcionam como um factor de união entre o espaço terreno e o espaço Celeste, no qual surge um anjo, olhando para a cena que decorre em baixo - São João baptizando Jesus. Do mesmo modo, o Céu azul prolonga-se no azul do rio Jordão e termina no azul do manto de Cristo, estendido no chão.
Corot encontrava-se na transição do Romantismo para o Realismo, sendo por isso ainda sensível aos valores de espiritualidade defendidos pelos artistas românticos. Apesar disso, devemos notar no carácter clássico das figuras e na estabilidade da composição, que remetem para esquemas compositivos desenvolvidos desde o Século XVII, em França, nomeadamente por Nicolas Poussin.
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Texto de Margarida Elias.

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