sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Ecce Agnus Dei

Pintura de Josefa de Óbidos, Cordeiro Pascal (c. 1660-1670, Museu Regional de Évora).
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Josefa de Ayala é um dos poucos exemplos de artistas femininas na pintura ibérica do Século XVII. Nasceu em Sevilha ca. de 1630, filha do pintor Baltazar Gomes Figueira. Essa cidade era na época um dos mais importantes centros artísticos da península. Em 1636, vieram para Portugal, instalando-se em Óbidos, onde Josefa morreu em 1684. Provavelmente conheceu a obra de Zurbarán, que a inspirou nos quadros figurando o Agnus Dei. Mesmo que não a tenha conhecido directamente, as composições de Zurbarán eram copiadas por outros artistas, sendo bastante divulgadas nos meios artísticos de seiscentos. Contudo, Josefa embelezou a austera composição do pintor espanhol com uma coroa de flores e de frutos, assim como era costume na pintura flamenga da época - tal como se pode ver neste quadro presente em Évora. O tema do Agnus Dei estava muito em voga e era muitas vezes associado à «Adoração dos Pastores», onde o cordeiro de patas atadas pronto para o sacrifício tornava-se um emblema de Cristo Redentor. Aliás, no quadro de Évora, as uvas e as espigas de trigo, presentes na grinalda envolvente, são uma alusão eucarística que reforça a mensagem religiosa da legenda: «occisus ab origine mundi», aludindo à morte de Cristo como sacrifício. Entre as várias flores, conotadas com virtudes cristãs, as rosas silvestres são símbolos da Virgem, da Natividade e da vinda do Messias. Pintados de modo naturalista, dentro do estilo tenebrista que dominava a pintura barroca, sobretudo nas naturezas-mortas, estas obras transmitem mais do que aquilo que os olhos podem ver. A sua simplicidade aparente esconde significados simbólicos e mensagens religiosas, que eram fáceis de ler nos meios culturais do seu tempo.
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Texto de Margarida Elias.
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Autores a consultar sobre este assunto: Edward J. Sullivan; Matias Diaz Padron; Julian Gallego; Vítor Serrão; Luís de Moura Sobral; Ana Hatherly.

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